quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Da vida em espectros

Sob as rodas correntes de um ônibus interurbano na madrugada, dou-me conta de um pulsar dolorido. Minhas memórias transcorrem, sobrepostas e percebo que tais quais só existem da cidade em que saio. Dessas viagens vem meus momentos de existência; mas vale se forem pontuais? Reajo pontualmente pois vivo tal como. Se aqui me estagno, apodreço, lá eu defloro, sou. Dei-me conta ontem, no ônibus interurbano, que lá eu vivo.

domingo, 7 de novembro de 2010

O pior é quando teus tendões não agem nem para atingir o vital.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Tentativas de elucidação resultam em declínio. Da forma autônoma: faz-se a luz e, de súbito, dá-se conta do 'non sense'. Despedem-se então pelo ralo as tais forças que mantinham-no na rotina (leia-se rotina: comer, dormir, viver, rir, fazer amor. Tem gente que chama isso de viver, embora acredito que a rotina é uma recaída em uma sobrevida).
Felizes dos que tem a capacidade de crer em alguma força, seja qualquer ela, ou ter qualquer fé. Qualquer fé.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Sou muito economica com palavras, sim. Minha verborreia vem, mais com estranhos, na mesa sem estopa. Quando calo-me e derramo movimentos de olhos e contracoes de labios, é porque ou, buscando o mapeamento do ser posto a minha frente, observo. Ou, pois julgo o proximo tao conhecedor meu, que fica dispensavel a comunicacao.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Uma das coisas de tamanha significatividade que aprendi após ir além do circuito Campinas-São Paulo, é que o mundo é vasto. Não vasto de possibilidades, mas de terras, de prefeituras, de indivíduos que se multiplicam e se repetem em toda a extensão. Similaridade e frequência. As pessoas, as prosas, os choros, os anseios, as fofocas, as difamações, as visões, as críticas, os padrões (tanto mais os que desmontam quando existe o mínimo de raciocínio lógico), a prisão invisível.



O que me angustia é que, se há tantos corpos sem sentido, se há tanto anonimato, os choros e sofrimentos perdem a causa, as vontades de crescimento perdem a causa, os esforços externos perdem a causa.

E se nascemos para morrer, e a extensão da morte é nada mais que tudo que já o significou apagado (se já não está apagado em sua vida, perante sua insignificância em meio ao tudo); existe sentido?
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Sou corujíssima, não aguentei:
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Fellini, o meu gato :]

domingo, 1 de novembro de 2009

A angústia é azul

Como Trois Couleurs: bleu compõe a liberdade em notas tão aflitas e sinceras.






A tela é encoberta até o infinito por uma tonalidade serena de azul, sendo o próprio conceito de calmo se não houvesse o corpo da gélida Julie, feita por Juliette Binoche, debatendo-se à exaustão para alcançar as fronteiras da piscina. O volume de águas oscilante decairia facilmente ao clichê e cansativo se não fosse feito da maneira que o é em A liberdade é azul, filme do polonês Krzystof Kieslowski. De maneira sublime, e acima de tudo artística, o filme situa-nos mais que a liberdade, e mais ainda que a angústia remetida aqui: é a exposição de um grande relato dos anseios humanos provenientes dos mais fundos âmagos.
O título, lançado em 1993, inaugura a trilogia das cores produzida pelo diretor em parceria com a França, sendo que os outros dois títulos em português são A fraternidade é vermelha e A igualdade é branca, ambos lançados no ano de 1994. Cores escolhidas em referência à bandeira francesa.
Julie, francesa de trinta e três anos, sobrevive a um acidente de carro que provocou a morte de seu marido, um importantíssimo compositor da Europa, e de sua filha pequena. Ela sofre, mas não recai ao exposto e ao piegas do choro exacerbado e do corpo tomado pelo desânimo. Ela tenta se livrar de toda e qualquer evidência do passado e se muda para um bairro suspeito da cidade, com a pretensão de vida de fazer nada. Mas o nada é a última coisa que a encontra. ‘É preciso agarrar-se a alguma coisa’, é o conselho de um mendigo, que predestinadamente, dá-lhe a fórmula da sobrevivência. Mas seria inverdade negar a vontade de sobrevivência de Julie.
Seu jeito atroz e seco para lidar com suas dores é dissolvido no rompimento do silêncio com a música que foi composta pelo seu finado marido, para o hino da União Européia, que estava prestes a consolidar-se na época.
Música que é “desrigecedora” de quaisquer queixos, executada pela Orquestra Sinfônica da Tchecoslováquia, é composta pelas notas de um sofrimento não pessoal, mas completamente compartilhável. É reconhecida a música do marido na melodia executada por um artista de rua no sopro da flauta, evidenciando o caráter universal não só da música, mas da angústia. A consternação, a expiação, a aflição da personagem, embora externadas de maneira fria e ímpar, são também universais. A liberdade é azul toca tanto porque é de fácil reconhecimento.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009